Expo Preta RioMar chega à 4ª edição em novo espaço e mais foco nos negócios

por: André Vita

Em novo espaço, com mais representatividade feminina e maior foco nos negócios, a Expo Preta RioMar chega à sua 4ª edição ampliando estrutura, visibilidade e alcance, para se consolidar como uma das principais vitrines de produtos, marcas e expressões do afroempreendedorismo na Região Metropolitana do Recife. Com duração de quatro dias, de 14 a 17 de agosto, este ano a feira será realizada na Praça de Eventos 1, em frente à escada rolante da entrada principal, no Piso L1 do RioMar Recife. O espaço estratégico e de maior circulação no shopping propicia um maior fluxo de visitantes, expandindo o potencial de vendas e conexões dos expositores.

Amadurecimento e Diversidade

A mudança de local é parte de um movimento de amadurecimento da feira, que nesta edição abriga cerca de 20 marcas autorais, reunindo uma diversidade de produtos nos segmentos de moda, beleza, arte e decoração. Com uma área mais ampla, a mostra contará com araras e vitrines de roupas, acessórios, biojoias, artesanato, produtos de beleza e peças de arte que traduzem a identidade e a ancestralidade das pessoas afroempreendedoras. Segundo Thayara Paschoal, gerente de Sustentabilidade do Grupo JCPM, a Expo Preta RioMar fortalece ano a ano o compromisso com a equidade racial, valorizando o talento, a criatividade e a potência dos empreendedores negros. “É uma construção coletiva, que conecta propósito, território e oportunidade.”

Afroempreendedorismo Feminino

O protagonismo feminino ganha ainda mais força nesta edição: a maioria das marcas presentes foi idealizada e é conduzida por mulheres negras. É o caso de Marly Soares, 64 anos, que empreende há 6 com a Marly Joias Artesanais. Para ela, chegar à maturidade empreendendo é resistir. “Expor no RioMar é estar no lugar certo. Claro que queremos vender, mas vai além disso. Nosso negócio precisa de visibilidade, de apoio, de uma rede de sustentação. Quando somos convidadas para um evento como esse, essa rede se forma. Isso é muito gratificante. Quero inspirar outras mulheres para que olhem pra mim, com minha idade e meus cabelos grisalhos, e digam: ‘Eu também posso estar ali’”, afirma.A resistência e a longevidade do negócio de Marly, que desafia o tempo e as estatísticas, ilustra um dado relevante desta 4ª Expo Preta RioMar: um índice superior a 80% dos negócios participantes existem há mais de cinco anos. Trata-se de um marco expressivo frente ao cenário do empreendedorismo no Brasil, onde grande parte das empresas não sobrevive além desse período. Uma dessas marcas consolidadas é a Zalika, da estilista Marta da Silva. Criada há dez anos a partir do desejo de unir identidade e moda, o empreendimento trabalha com roupas autorais voltadas ao bem-estar e à autoestima da mulher negra. Ao longo de sua trajetória como afroempreendedora, Marta conta que enfrentou inúmeros desafios – desde o acesso a recursos até a superação de preconceitos estruturais –, mas acredita que cada obstáculo também trouxe aprendizados que fortaleceram sua caminhada. “Hoje, enxergo o empreendedorismo como uma ferramenta de transformação pessoal e coletiva. Participar da Expo Preta é um marco desse reconhecimento e valorização. Mais do que expor produtos, é estar num espaço de celebração da cultura negra e da coletividade que se constrói a partir dela. Meu conselho? Acredite no seu propósito, estude o mercado e não desista diante das dificuldades”, compartilha Marta, que apresenta nesta edição uma curadoria especial de peças com estilo, conforto e autenticidade.

Vetor de Transformação

As trajetórias de Marly e Marta se conectam a um movimento maior que a Expo Preta busca firmar: o afroempreendedorismo criativo como motor de transformação social e econômica. O Brasil já conta com cerca de 16 milhões de empreendedores negros, segundo dados da PNAD Contínua. De 2012 a 2024, o crescimento foi de 31%. De acordo com levantamento do Sebrae, juntos, eles movimentam quase R$ 2 trilhões por ano, gerando emprego, renda, inovação e fortalecimento comunitário.Esses números ganham forma nas histórias e iniciativas reunidas na quarta edição da Expo Preta RioMar. Entre os empreendimentos presentes, destacam-se projetos que combinam criatividade, engajamento social e valorização da identidade negra. Um exemplo é o da artista visual Yane Mendes, da marca Olho de Rata, que transforma cenas da favela em arte estampada, levando às ruas galerias móveis de resistência e memória. Já a produção coletiva das mulheres marisqueiras Quilombolas de São Lourenço dá vida a acessórios feitos à mão com insumos naturais sustentáveis, gerando renda e visibilidade para sua comunidade.A Du.ife, por sua vez, resgata a ancestralidade afro-brasileira por meio de roupas e acessórios sustentáveis, enquanto a Moda Mangue Biojoias traduz a natureza do mangue pernambucano em peças únicas, criadas com consciência ambiental. Também integra o grupo a Marinho Laces, com apliques e acessórios voltados ao cuidado dos cabelos afro.Outras marcas ampliam ainda mais o repertório da feira, como a Escama Fina, que expressa a estética do hip hop em acessórios com forte carga ancestral, e a Negra Rosa, com uma linha de higiene e beleza pensada especialmente para pele e cabelos de pessoas negras, com ingredientes naturais. A Noda.PE valoriza o regionalismo nordestino com produtos como camisas, canecas e ecobags que evocam memória afetiva e pertencimento. Na joalheria, a Nuvem de Prata apresenta acessórios em prata com inspiração minimalista e raízes pernambucanas. Odara Designer traz peças que rompem padrões e vestem corpos diversos, ao passo que Odara Feito por Elas aposta em camisas com estamparia exclusiva e discurso visual voltado à ancestralidade e à diversidade.

Expectativas

Lassana Moda leva à feira criações do estilista senegalês Lassana Mangassouba, com tecidos e estampas africanas que unem tradição e sofisticação. A marca Pano Amostrado é outro destaque da moda independente produzida no Recife, enquanto a Timóteo aposta em roupas feitas com reaproveitamento de tecidos naturais, priorizando a produção artesanal e sustentável. Completando o time, a multiartista Salamandra, da Salamandra, apresenta peças que mesclam afrofuturismo, ancestralidade e reaproveitamento de materiais, refletindo sua trajetória de mais de 20 anos na moda, na arte-educação e nas artes visuais.A pluralidade de experiências inclui trajetórias como a da artista e arquiteta Magdala, fundadora da Entre Pontes. Nascida durante a pandemia, a marca foi construída com materiais doados e talento autodidata. “Foi a Entre Pontes que me manteve ativa e financeiramente estável durante dois anos de isolamento. Hoje, levo minha arte para murais, oficinas e feiras, e participar da Expo Preta é a chance de furar a bolha. Aqui conseguimos nos olhar, nos reconhecer, perceber que não estamos sozinhas. Levo quadros, ímãs e impressões que representam minha caminhada e a cultura negra que me inspira. É onde consigo planejar, vender e me organizar para crescer de forma sustentável.”

Reconhecimento e Amadurecimento

Para quem estreia na feira, o sentimento é de entusiasmo, como expressa a estilista e comunicadora Jessica Zarina, fundadora da Zarina Moda Afro, que carrega no próprio corpo e discurso a missão de transformar a moda em ferramenta de pertencimento. “Acredito muito na força, na potência e na importância dessa iniciativa, que fortalece, impulsiona e exalta marcas e a cultura preta”, destaca. Na visão de quem retorna à Expo Preta, a experiência vem acompanhada de reconhecimento e amadurecimento. O artesão Robson OMaia participa da feira pela segunda vez com sua marca de acessórios em couro e comemora o lançamento da nova coleção Cobogó. “Comecei na construção civil e, após uma demissão, me reinventei com o artesanato em couro. São nove anos de aprendizado, capacitações, erros e acertos. Estar na Expo Preta é ter meu trabalho valorizado em um dos principais shoppings do país. A nova coleção traz minha identidade e o orgulho de estar crescendo. Os desafios são muitos, especialmente no acesso a técnicas e no enfrentamento da burocracia. Mas, para quem está começando, meu conselho é: nunca esteja satisfeito. Sempre pense no próximo passo.”Premiada nacionalmente com o Troféu Ouro no Prêmio Abrasce, na categoria Sustentabilidade, a Expo Preta é reconhecida como uma plataforma estratégica de fortalecimento de negócios de impacto social. Nesta edição, com nova estrutura, o evento ressalta seu papel como ponte entre o talento de pessoas afroempreendedoras e o mercado.

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