Até o dia 28 de setembro de 2024, o Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília, está sendo palco do 12º Congresso Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute. O evento reunirá mais de 300 especialistas, brasileiros e internacionais, para discutir os principais desafios da oncologia, incluindo a sustentabilidade no setor. Nesse sentido, um dos pontos relevantes nas discussões será a desigualdade no acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer, assim como as disparidades socioeconômicas que afetam a sobrevida dos pacientes oncológicos.
Tendo como tema central “Oncologia do Futuro: Inovação e Eficiência como Motores da Sustentabilidade”, o congresso levanta debates relevantes em um momento que o sistema de saúde enfrenta o desafio de equilibrar o aumento progressivo dos casos de câncer e os altos custos de tratamento, um cenário que afeta países de todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), projeta-se um aumento de 77% no montante de novos diagnósticos até 2050.
Essa realidade é ainda mais evidente em países como o Brasil, onde as disparidades regionais no acesso a terapias avançadas criam entraves adicionais para o sistema de público, que enfrenta limitações orçamentárias. “A tecnologia possibilitou o desenvolvimento de tratamentos cada vez mais personalizados e promissores, como a imunoterapia, análise molecular de tumores, terapias CAR-T, inibidores de checkpoints imunológicos, entre outros. Porém, o custo altamente elevado dessas terapias ainda cria um abismo no acesso para a maioria da população e sistemas de saúde públicos”, diz o oncologista Max Senna Mano, coordenador do congresso e líder nacional da especialidade tumores de mama da Oncoclínicas.
Ele destaca a importância de tornar esses avanços científicos mais disponíveis. “As tecnologias mais avançadas têm um custo astronômico. Precisamos garantir que esses esforços beneficiem a todos, não apenas uma pequena parcela que pode arcar com esses valores”, completa.
Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas, ressalta a urgência da adoção de medidas para garantir equidade no acesso aos melhores tratamentos. “A desigualdade no acesso à saúde é a principal preocupação na oncologia. O progresso científico é impressionante, mas ainda temos um grande desafio pela frente para torná-lo acessível a todos os pacientes, independentemente de sua condição financeira”.
Inovação e parcerias público-privadas
Durante o congresso, especialistas discutirão como a pesquisa científica e a inovação podem se tornar alternativas valiosas para reduzir o custo de novos tratamentos oncológicos. O avanço da Inteligência Artificial (IA) está moldando o futuro da oncologia, trazendo benefícios tanto na precisão dos diagnósticos quanto na personalização dos tratamentos. A IA também está sendo utilizada para integrar dados genômicos e clínicos, permitindo a criação de protocolos de terapêuticos mais eficazes e eficientes.
Aline Chaves Andrade, oncologista responsável pelo módulo de Neoplasias Neuroendócrinas, aponta que novas tecnologias, como a terapia com radiofármacos, no caso o Lutecio, usada para o tratamento dos tumores Neuroendócrino, de maneira mais precoce, pode trazer grandes benefícios para os pacientes. “Porém, somente os grandes centros urbanos conseguem realizar essa terapia, já que poucos possuem centros de medicina nuclear no Brasil”.
Além disso, as novas terapias voltadas para o tratamento do câncer, como os inibidores de checkpoints imunológicos, têm ganhado destaque por seu potencial de transformar o cenário oncológico. Apesar do avanço, Denis Jardim, líder nacional da especialidade tumores urológicos da Oncoclínicas e responsável pelo módulo de Câncer Geniturinário, alerta para a necessidade de garantir que essas terapias estejam ao alcance de todas as pessoas. “Estamos presenciando um momento revolucionário no tratamento oncológico, com novas terapias que oferecem resultados animadores aos pacientes. No entanto, é imprescindível que esses avanços possam ser inseridos dentro no cuidado da saúde de forma a garantir o acesso nas devidas indicações e a sustentabilidade do sistema”.
A colaboração entre o setor público e privado é ainda essencial para o desenvolvimento de soluções viáveis. Não à toa, o congresso terá um módulo de Acesso e Políticas Públicas. “É crucial implementar políticas públicas que garantam acesso equitativo a tratamentos oncológicos de ponta, ao mesmo tempo que assegurem a viabilidade financeira do sistema”, aponta Diogo Rosa, coordenador do dos painéis deste bloco temático.
Diagnóstico precoce e avanços nos tratamentos
A importância do diagnóstico precoce e prevenção do câncer, com foco na importância da adoção de hábitos saudáveis, também estará entre os assuntos discutidos durante o congresso. Hoje em dia, adotar uma dieta balanceada, praticar exercícios físicos regularmente e combater o tabagismo e a obesidade são rotinas que ajudam a evitar que a doença bata na porta.
Além disso, na visão de Sidnei Epelman, líder nacional da especialidade oncopediatria da Oncoclínicas e responsável pelo módulo de Câncer e Hematologia Pediátricos, o diagnóstico precoce e preciso é a ferramenta mais poderosa que temos. “Ele não só aumenta as chances de cura, mas também permite intervenções menos agressivas, o que é fundamental para preservar a qualidade de vida dos pacientes, especialmente no caso de crianças. Identificar o câncer em estágios iniciais faz toda a diferença no sucesso do tratamento”, ressalta.
A oncologia de precisão também estará na pauta do evento, com os especialistas discutindo sobre a análise molecular de tumores e o uso de biomarcadores para personalizar os tratamentos. Embora esse avanço tenha sido celebrado durante o último congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO), a implementação no Brasil ainda enfrenta desafios relacionados ao custo e à disponibilidade de infraestrutura e financiamento.
Abordagem multidisciplinar e cuidados paliativos
A importância da integração de diversas especialidades no tratamento do câncer é outro tópico que será tratado durante os três dias do congresso. “Ela otimiza a qualidade de vida dos pacientes e os recursos, pontos cruciais para a sustentabilidade do sistema de saúde”, defende Luciana Landeiro, líder do módulo Multidisciplinar I (Foco Survivorship).
Outro assunto que não ficará de fora das trocas de conhecimento promovidas ao longo do encontro são os cuidados paliativos, que terá um módulo especialmente voltado para o tema, e abordará pontos como o manejo adequado dos sintomas e a importância do suporte emocional aos pacientes e suas famílias.
“Os cuidados paliativos vão além do controle dos sintomas físicos; eles envolvem um suporte integral, que inclui o bem-estar emocional e psicológico do paciente e de sua família. O objetivo é garantir qualidade de vida e dignidade em todas as fases da doença, independentemente do estágio do tratamento”, ressalta Sarah Ananda, líder nacional da especialidade cuidados paliativos e responsável pelo módulo.
O que esperar para o futuro?
Encontrar um equilíbrio entre os avanços tecnológicos e a sustentabilidade financeira do setor é fundamental para contribuir para a redução da incidência de mortes por câncer, além de oferecer melhor qualidade de vida aos pacientes.
“Precisamos de uma oncologia que seja, ao mesmo tempo, eficiente, inovadora e acessível, para podermos oferecer o melhor cuidado possível para todos os pacientes”, conclui Cristiano Resende, oncologista líder do módulo de Câncer de Mama.