O Novembro Azul, campanha originalmente voltada à conscientização sobre o câncer de próstata, ampliou seu alcance nos últimos anos e hoje promove um debate essencial sobre o autocuidado masculino. É uma oportunidade para discutir outras questões de saúde que, historicamente, recebem menos atenção por parte dos homens, a exemplo da saúde bucal. De acordo com a dentista Fernanda Mourato, especialista em odontologia estética e responsável pelo Ateliê Oral, no RioMar Trade Center, no Recife, a saúde bucal masculina ainda enfrenta barreiras culturais e hábitos arraigados que precisam ser repensados.
“Muitos homens só procuram atendimento quando a dor ou o problema já são severos, e, infelizmente, isso contribui para o agravamento de doenças bucais que poderiam ser tratadas de forma muito mais simples se identificadas precocemente”, destaca Mourato. Estudos recentes mostram que homens tendem a buscar atendimento odontológico em intervalos muito maiores do que as mulheres, e muitas vezes por influência de familiares – normalmente esposas ou filhos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram essa visão. A última Pesquisa em Saúde revela que as mulheres escovam os dentes com mais frequência que os homens e visitam o dentista com mais regularidade. “Esse hábito é determinante. Visitas preventivas ao dentista não são só uma questão de estética. A boca é uma porta de entrada para a saúde do corpo, e, para os homens, entender isso pode ser transformador”, comenta a dentista.
A questão vai além dos cuidados diários. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os homens são mais propensos ao câncer de boca, especialmente após os 40 anos. “Ainda existe muito desconhecimento sobre o câncer de boca. Lesões, manchas e nódulos são, muitas vezes, ignorados, e as pessoas acreditam que isso não é nada. Mas esses sinais devem ser investigados rapidamente, pois o diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura”, explica Fernanda.
No entanto, ela reconhece que reverter esse cenário requer uma mudança cultural, e o Novembro Azul pode desempenhar um papel essencial nesse sentido. “É preciso que o homem perceba o autocuidado como uma responsabilidade e não como uma questão secundária. Infelizmente, a visão tradicional de que se preocupar com a saúde pode ser um sinal de fragilidade ainda persiste, e isso precisa ser desconstruído”, enfatiza Mourato.
Outro ponto levantado pela especialista é a relação entre os hábitos de vida e a saúde bucal. O consumo de álcool e o tabagismo, por exemplo, são fatores de risco não só para o câncer de boca, mas para outras doenças crônicas e graves. A exposição ao sol sem proteção, especialmente para quem trabalha ao ar livre, também pode ser um fator de risco importante para lesões nos lábios que evoluem para câncer. “Ao compreender esses fatores e reduzir esses comportamentos, estamos dando passos valiosos na prevenção. A saúde bucal não está isolada do resto do corpo; ela se integra a ele e o impacto das nossas escolhas se reflete na nossa boca”, afirma Fernanda.
No Ateliê Oral, Fernanda observa uma crescente procura por tratamentos odontológicos estéticos, e acredita que esse interesse pode ajudar a ampliar a consciência sobre a importância do cuidado com a saúde bucal. “Muitos homens vêm pelo desejo de ter um sorriso mais bonito, e durante o tratamento acabamos abordando a importância de manter uma rotina de higiene e prevenção. Esse é um ponto de partida, pois a saúde bucal não é só estética, ela tem um impacto direto na saúde cardiovascular, respiratória e em várias outras áreas.”
Em tempos em que as taxas de longevidade são marcadamente diferentes entre homens e mulheres – uma diferença de sete anos, segundo o Ministério da Saúde – o alerta da campanha de Novembro Azul vai além de consultas preventivas e exames. Trata-se de uma questão de consciência e responsabilidade. “Quanto mais falarmos sobre isso, mais homens entenderão que esse autocuidado impacta diretamente na qualidade de vida e no bem-estar”, conclui a dentista.