ARTIGO – O “Apagão da Mão de Obra” no Brasil: Um paradoxo que ameaça o crescimento

por: Redação
O Brasil enfrenta um paradoxo: enquanto empresários relatam dificuldade em contratar, milhões de brasileiros em idade produtiva encontram-se fora do mercado formal, muitos deles entre os chamados “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham). Esse fenômeno, conhecido como “apagão da mão de obra”, já afeta todo país mas, em especial, alguns estados como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, prejudicando diretamente a economia nacional.
Entre as principais causas desse problema estão as mudanças na mentalidade dos jovens, que mostram crescente preferência pelo trabalho autônomo. Essa alternativa oferece maior flexibilidade e ganhos superiores, além de refletir uma desconfiança no sistema previdenciário. Muitos questionam se conseguirão se aposentar, sobretudo com previsões do Banco Mundial que indicam idades mínimas de 72 anos em 2040 e 78 anos em 2060 para manter o equilíbrio previdenciário.
Outro fator está relacionado aos programas assistenciais, como o Bolsa Família, que, apesar de essencial no combate à fome e pobreza, pode desincentivar a formalização no mercado de trabalho. Com o aumento do benefício para R$ 600,00, muitas pessoas optam por trabalhos informais que não comprometam o recebimento da ajuda do governo. Isso cria um descompasso evidente: entre 2019 e 2024, enquanto a população em idade ativa cresceu 4,6%, a força de trabalho aumentou em apenas 3%. Entre 2021 e 2024, o número de lares beneficiados pelo Bolsa Família saltou de 14 para 20 milhões, mesmo com a queda do desemprego.
Os impactos econômicos já são claros. Setores como a indústria e o agronegócio já apresentam limitações em sua capacidade produtiva e em cadeira, as áreas de serviço e varejo também serão impactadas, o que reduz o crescimento do PIB. Isso implica menor arrecadação tributária e limita a capacidade do governo de financiar seus próprios programas assistenciais, criando um ciclo econômico destrutivo.
No entanto, há experiências internacionais que podem servir de exemplo. Em Luxemburgo, o desempregado que deseja receber seu subsídio é obrigatoriamente cadastrado na Agência de Desenvolvimento de Emprego (ADEM), sendo orientado por planos de recolocação e treinamentos. Se recusar vagas adequadas ao seu perfil mais de três vezes, perde o direito ao benefício. Esse equilíbrio entre assistência e estímulo ao trabalho poderia ser adaptado ao Brasil.
Outro ponto crítico é a situação das micro e pequenas empresas, que compõem 99% do empresariado nacional e empregam 60% da força formal. Com a atual estrutura trabalhista, contratar um funcionário por um salário mínimo de R$ 1.518,00 custa ao empregador cerca de R$ 2.575,00, incluindo encargos, enquanto o trabalhador recebe apenas cerca de R$ 1.100,00 líquidos em sua conta. Esses custos somados aos benefícios dificultam contratações pois são altos para quem paga e pouco para quem recebe.
Diante desse cenário, é urgente repensar o modelo trabalhista e assistencial do país, além de modernizar as relações de trabalho, com regulamentação de novas modalidades. Com ações coordenadas e inteligentes, o Brasil pode garantir desenvolvimento econômico sustentável e melhorar as condições de vida de sua população.

Jéssica Couto – Diretora de Marketing do Grupo Trino e especialista em Liderança e Gestão Empresarial.

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