ARTIGO – O Brasil é um país de feridas: a negligência no cuidado com a diabetes

por: Redação

A palavra que define boa parte da realidade de quem convive com a diabetes no Brasil é negligência. Não apenas pela falta de políticas públicas eficientes, mas também pela forma como muitos pacientes lidam com a própria saúde. A doença, que atinge mais de 13 milhões de brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o que representa 6,9% da população nacional, carrega um peso silencioso: as lesões ocultas. Elas surgem nos pés, onde a perda da sensibilidade faz com que pequenas feridas se tornem portas de entrada para infecções graves, podendo levar à amputação.

 

A cada 20 segundos, um pé é amputado por complicações da diabetes. É um cenário alarmante. Aproximadamente 25% dos pacientes diabéticos desenvolvem úlceras nos pés e 85% das amputações de membros inferiores ocorrem em pessoas com a doença, segundo o Ministério da Saúde, e o mais assustador é que a grande maioria poderia ser evitada com um simples acompanhamento. Mas as pessoas não têm o cuidado, mesmo com a informação, por isso é preciso conscientização. 

 

Presenciei casos de pessoas que escondem lesões, até mesmo do seu cônjuge. O medo, a vergonha e a falta de orientação fazem com que muitos pacientes ignorem os sinais até que seja tarde demais. Pequenos machucados podem evoluir para infecções severas, que acabam levando à perda do membro. Isso não é uma fatalidade, mas uma consequência da falta de prevenção.

 

Prevenir é sempre o melhor caminho. Praticar atividades físicas, manter uma alimentação saudável e evitar o tabagismo e o álcool são formas de reduzir o risco da doença. Para quem já foi diagnosticado, o acompanhamento médico e o cuidado com os pés são essenciais. Não podemos mais aceitar que tantas vidas sejam mutiladas por falta de informação ou medo de buscar ajuda. Com o espaço especializado para atender pacientes diabéticos e oferecer suporte integral, é necessário focar na prevenção, no tratamento e na educação. O trabalho multidisciplinar, com o cuidado de feridas e ostomias, acompanhamento nutricional para controle glicêmico e orientação para que os pacientes entendam a importância do autocuidado, é necessário para uma evolução no tema.

 

O Brasil precisa deixar de ser um país de feridas. O primeiro passo é romper o silêncio, oferecer suporte e garantir que ninguém mais tenha que esconder uma lesão, muito menos perder parte do seu corpo por algo evitável.

 

Por Andrea Tavares, coordenadora do curso de Enfermagem da UniFBV Wyden

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