O mercado de trabalho vem se transformando com a valorização e ações de inclusão dos profissionais com mais de 50 anos. Esta tendência não apenas se alinha aos valores corporativos modernos, mas também à busca por equipes diversificadas e experientes. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), até 2040, cerca de 56% da força de trabalho no Brasil será composta por pessoas com mais de 45 anos.
Embora os desafios relacionados ao preconceito etário ainda sejam consideráveis, as empresas têm acompanhado esta transformação, como o Grupo Trino, que conta com iniciativas focadas na contratação e inclusão destes profissionais. Desde 2021, o Grupo implementou o Comitê de Diversidade e Inclusão, iniciando ações específicas para este público. O projeto é voltado à contratação, inclusão e manutenção de pessoas com mais de 50 anos de idade em seu quadro de pessoal. Para tanto, foram elaboradas diretrizes e processos que visam a não descriminação por idade. Entre elas, a não utilização deste fator como critério para o processo seletivo.
“Sempre escolhemos no mercado de trabalho as pessoas mais capacitadas e que colaborem mais em grupo. Para isto, garantimos a manutenção do quadro de pessoas 50+ através de iniciativas de engajamento do time em torno de nosso propósito de adesão a um comportamento de escuta aberto e intencional, além de trilhas de treinamento e desenvolvimento. Acreditamos que a manutenção de nossos colaboradores na empresa promove o fortalecimento da nossa cultura, consolidando os nossos valores”, afirma Cláudia Dowsley, diretora de Capital Humano do Grupo Trino.
Quebrando tabus
A valorização da experiência e maturidade não apenas beneficia os profissionais com mais de 50 anos, mas também impulsiona o crescimento e a competitividade das empresas, como acredita também o Grupo Parvi. Presente em 14 estados do Brasil, a empresa implementou, em 2022, ações focadas na ampliação do seu quadro de funcionários com este perfil. No início foram criados cards e publicações específicas com o chamamento destes profissionais. Hoje, já são mais de 90 pessoas do grupo 50+ contratados para as mais variadas funções, sem contar com os que já estavam nas equipes antes da iniciativa, como os mecânicos sêniores.
“Não existe uma cota, apenas a exigência do preenchimento dos requisitos técnicos e comportamentais. Fazemos um processo seletivo absolutamente permeável para qualquer pessoa de acordo com as suas competências. A mescla de gerações dá muito certo. No início percebemos certa resistência dos mais jovens, mas isso muda quando eles percebem na prática os resultados positivos, que são muitos. Nosso objetivo é aumentar essa participação”, avalia Clívia Costa, diretora de RH do Grupo Parvi.
Além do preenchimento de vagas de forma espontânea, o grupo também proporciona oportunidades de crescimento para os que desejam continuar aprendendo e inovando em suas carreiras e que para isso continuam na busca por capacitação, seja através de graduações só possíveis nesta fase da vida ou pela possibilidade de mudança de carreira após a aposentadoria. Esse incentivo se dá através de programas de estágio que oferecem oportunidades de aprendizado dentro do grupo.
Comprometimento
“Em 2020, cerca de 20% da população brasileira estava na faixa 50+ e representava apenas 7% da força de trabalho formal do país”, recorda Henrique Steinberg, associado da Olinda Creative Community Action (OCCA), um grupo composto por mais de 80 empresários de todas as áreas e idades focado em iniciativas para fomentar tecnologia e educação. Henrique está envolvido com a mentoria de startups e colhendo indicadores sobre o desempenho positivo e diferenciado de projetos liderados por empreendedores acima dos 50 anos. Os dados da pesquisa serão compilados até o final de julho, “Projetos desenvolvidos por esta faixa etária tendem a ter resultados diferenciados quando comparados aos desenvolvidos pelos mais jovens”, antecipa.
Já Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, especializada no treinamento, consultoria, recrutamento e seleção de profissionais 50+, observa um movimento mais estratégico por parte das empresas para a contratação de trabalhadores mais maduros. Esse interesse crescente, segundo o executivo, pode ser atribuído a fatores como a busca por conhecimento e experiência, especialmente em cenários que exigem tomada de decisão estratégica, e o reconhecimento pelas empresas da importância da diversidade etária para a inovação e para a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e representativo.
O especialista lembra ainda dos estudos que indicam que trabalhadores mais velhos tendem a demonstrar maior lealdade e compromisso para com suas empresas, o que reduz a rotatividade e os custos associados à recontratação e treinamento, além da potencialização da resolução de problemas e inovação propiciada pela combinação de diferentes gerações no local de trabalho. “Há evidências de uma maior conscientização sobre o etarismo e da necessidade de políticas de trabalho mais flexíveis e adaptativas. As empresas que se destacam nesses aspectos são vistas não só como socialmente responsáveis, mas também como mais atrativas para investidores e parceiros que valorizam a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa”, atesta Litvak.