Câncer infantojuvenil: estudo brasileiro mostra resultados no tratamento de tumor cerebral a partir da análise genética

Estudo enfatiza a importância da avaliação molecular e medicina de precisão no combate ao meduloblastoma, doença que apresenta altas taxas de letalidade na América Latina

by Redação

Diagnósticos de câncer são sempre difíceis para o paciente e suas famílias, principalmente em casos de tumores que afetam crianças e adolescentes. Contudo, o prognóstico nestes casos tem se mostrado cada vez mais positivos, com avanços relevantes nas últimas décadas pautados pelo maior conhecimento dos mecanismos genéticos que levam ao surgimento da doença. Isso vem mudando o cenário de tratamento, com a adição de novas alternativas diagnósticas e terapêuticas, que garantem ainda maior qualidade de vida aos jovens pacientes oncológicos.

Em linha com essa visão, Sidnei Epelman, líder nacional da especialidade de oncopediatria da Oncoclínicas&Co, apresentou na ASCO 2024, maior evento mundial da oncologia, importantes resultados de um estudo inovador no tratamento do meduloblastoma, um tipo de tumor cerebral que surge na infância, sendo mais comum na faixa etária entre 3 e 10 anos de idade.

“Quando falamos de câncer infantil, estamos nos referindo a um número grande de doenças, que são muito diferentes entre si. Até meados dos anos 1970, crianças e adolescentes com neoplasias recebiam o mesmo tratamento que os adultos, apesar de possuírem características biológicas e orgânicas bem distintas. Hoje, o cenário é bem diferente, com linhas de cuidado específicas para essa parcela dos pacientes, o que garante mais sucesso nos resultados”, explica o oncopediatra.

A análise avaliou 159 pacientes do Brasil e outros países da América Latina com a doença, considerando o período de novembro de 2018 a dezembro de 2023. Intitulado “Avanço do tratamento de tumores cerebrais pediátricos na América Latina através da classificação molecular e da medicina de precisão”, a iniciativa foi destacada por sua abordagem inovadora, que permite a personalização dos protocolos de tratamento com base em mutações e vias moleculares específicas dos tumores.

“Por meio da análise genética de amostras tumorais, este mapeamento traz uma visão apurada que possibilita que os médicos adaptem os tratamentos às necessidades individuais de cada paciente, uma prática que tem potencial para transformar o cenário do tratamento de tumores cerebrais pediátricos latino-americanos”, diz Sidnei Epelman.

Resultado de um projeto desenvolvido por intermédio do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular da TUCCA, uma associação sem fins lucrativos focada no combate ao câncer na infância, com apoio da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), o método de medicina de precisão mostrado na ASCO resulta em terapias mais eficazes, menos efeitos colaterais e melhora nas taxas de sobrevida em comparação aos tratamentos padrões.

A expectativa é que com este avanço o acesso ao diagnóstico e às terapias avançadas para tumores cerebrais pediátricos seja ampliado, proporcionando esperança e melhor qualidade de vida para muitas crianças e adolescentes. Atualmente, a América Latina registra 4,4 casos de tumores cerebrais pediátricos por 100 mil crianças, mas enfrenta desafios significativos em termos de tratamento adequado e acesso a cuidados de saúde.

Os dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sinalizam ainda que as desigualdades enfrentadas por países da América Latina geram lacunas nas taxas de sobrevivência de crianças e adolescentes com câncer, que variam de 80% a 20%, dependendo do país. “Este projeto visa reverter essa disparidade, promovendo o desenvolvimento e implementação de um algoritmo de classificação molecular de baixo custo específico para o meduloblastoma”, enfatiza o líder nacional de oncopediatria da Oncoclínicas.

Cenário do câncer infantojuvenil no Brasil

Considerada a primeira causa de morte por doença em crianças (8% do total) e a segunda causa de óbito em geral, o câncer infantojuvenil responde por 7.930 novos diagnósticos a cada ano, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2023-2025.

 Entre os tipos mais comuns de tumores na faixa etária até 19 anos estão: tumores do sistema nervoso central, leucemia e linfoma Apesar dessa classificação comum, vale lembrar que essas doenças se diferenciam dos casos em adultos, dadas as próprias características de desenvolvimento nessa fase da vida. Há ainda uma série de tumores mais raros, identificados exclusivamente nos primeiros anos da criança, como o retinoblastoma, que exigem atenção dos pais para que os sinais não passem despercebidos

“É essencial destacar que os mais jovens tendem a ter respostas mais positivas aos tratamentos. O importante é garantir que tenham uma linha de cuidado que contempla não só esse olhar para o câncer, como também para a pluralidade de desafios que a fase de crescimento representa, garantindo a essas crianças e adolescentes as condições para se desenvolverem de forma plena em todos os sentidos”, enfatiza o oncopediatra.

Sidnei Epelman reforça ainda que a jornada de combate ao câncer infantojuvenil contempla a realização de terapias em centros oncológicos dedicados ao tratamento de tumores pediátricos, a utilização de protocolos cooperativos e uma linha de cuidados de suporte, essencial para garantir um olhar plural para as necessidades de pacientes que estão ainda em fase de transformação e desenvolvimento, tanto físicos quanto emocionais. “Os oncologistas pediátricos atuam, assim, em conjunto e integrados a equipes multidisciplinares, que contam com a colaboração de cirurgiões, radioterapeutas, patologistas, hematologistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, entre outros profissionais”, finaliza.

Oncoclínicas na ASCO 2024

Assim como em outros anos, a Oncoclínicas&Co, um dos maiores grupos especializados no tratamento do câncer da América Latina, foi destaque na ASCO 2024 com 37 participações. A presença brasileira contou com apresentação oral e em pôsteres, e também em sessões como painelistas e debatedores.

“A pesquisa clínica e a educação são instrumentos essenciais para tornar a saúde acessível a todos, independentemente dos limites territoriais. A Oncoclínicas vem avançando a passos largos para, de fato, contribuir nessa equação. Nesta edição da ASCO, contamos com uma delegação de mais de 100 especialistas, que compartilharam conhecimento com a comunidade oncológica mundial na busca pelas melhores alternativas de cuidado para vencer o câncer”, afirma Bruno Ferrari, fundador e CEO da Oncoclínicas&Co.

Além disso, pela primeira vez a companhia contou com um stand na área de expositores do evento, um espaço dedicado a compartilhar avanços científicos e promover a interação direta com principais tomadores de decisão e influenciadores do setor. “O fortalecimento da nossa presença na ASCO 2024 é mais um passo que possibilita a formação de parcerias que podem acelerar o desenvolvimento e a implementação de novas frentes de combate à doença, beneficiando amplamente os nossos pacientes”, finaliza.

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