A artista da dança e bioarquiteta Duda Freyre escolheu a comunidade de Apipucos, na zona norte do Recife, onde vem construindo uma relação de afeto, trabalho social e fortalecimento da periferia, para ser o primeiro território da capital pernambucana a receber o espetáculo de dança contemporânea “DOA, VOA!”. A estreia da temporada está marcada para o próximo dia 18 de abril (quinta-feira), com apresentações extras nos dias 20 e 21 (sábado e domingo), sempre às 19h30, na sede do Grupo de Idosos Eternos Aprendizes. O acesso é gratuito e aberto ao público de todos os gêneros e idades. A realização deste solo conta com recurso da Lei Paulo Gustavo – Recife.
DOA, VOA! traz a figura de uma “mulher guerreira” que carrega facetas ancestrais e contemporâneas, partindo de um imaginário coletivo palpável, reconhecível, concreto e visível aos olhos. A narrativa transporta quem assiste a um universo ainda mais particular, convidando a adentrar em lugares mais profundos do “sentir” dessa mulher. Despida de um passaporte social usual para mulheres agricultoras, a mulher guerreira pulsa e transborda com ajuda do figurino que expõe suas estruturas corporais com respirações e tensionamentos. A artista dialoga com um diafragma com cerca de três metros de palha e com um “zome” com ripas de bambu amarradas em espiral. É como se o “zome” fosse um corpo-casa, uma estrutura que acolhe as entranhas invisíveis e subjetivas. Nas últimas cenas, a mulher, livre e brincante com uma enxada na mão, dança a própria vida.
A circulação do espetáculo de dança contemporânea “DOA, VOA!”, que já esteve no litoral de Serra Grande, no estado da Bahia, é também um processo de troca de saberes com mulheres sobre arquitetura com bambu e palha. Diante de um déficit habitacional de 5,876 milhões de moradias em 2019, o espetáculo vem difundindo conhecimentos básicos em bambu e palha por onde passa, oferecendo um pontapé inicial para pessoas interessadas em bioarquitetura a ter mais autonomia na construção de espaços saudáveis. O trabalho mescla conhecimentos da dança e da construção sustentável, propondo reflexões acerca de estruturas têxteis, fazendo também uma relação entre tecidos musculares do corpo humano e tecidos de estruturas arquitetônicas.
A investigação da criação perpassa pela ideia de “corpo-casa”, entendendo os corpos edificados (casas) como possíveis extensões dos corpos humanos. Neste trabalho, Duda Freyre relaciona os ossos com estruturas de uma casa com “peles e fáscias”, com tecidos de diferentes densidades e flexibilidades.
O nome do espetáculo ‘DOA, VOA!’ (Dança Obra Arte, Vida Obra Arte!) remete ao voo, no sentido de construção daquilo que acredita e através desse fazer, desse tecer, libertar a própria existência na espiral da vida, sabendo que toda construção perpassa também por reconstruções. Se considerarmos a casa uma extensão do corpo humano e um corpo vivo, podemos construir paredes que respiram, observar que o teto liga esse corpo ao céu e o chão o conecta com a terra. “As construções de corpo e casa afetam as pessoas, a sociedade e impactam o ambiente. A construção desse corpo-casa pode ser saudável, seja para quem habita esse corpo, seja no que ele reverbera no planeta. Provocamos reflexões sobre a relação das pessoas e a construção de suas casas em seus territórios, numa perspectiva ética e política do cuidado e do bem viver”, explica a artista e bioarquiteta Duda Freyre.
Bioconstrução do cenário com bambu e palha em Apipucos – Duda Freyre vem aprofundando sua pesquisa de movimento e está ávida por apresentar pela primeira vez no Recife. A artista escolheu começar pela comunidade de Apipucos porque vem realizando um trabalho neste território desde abril de 2019, quando foi criado o Luíla e Pretinha Cineclube e em 2021, a coletiva Mulheres LP. Em cada local onde o projeto “DOA, VOA!” pousa, há a construção de um “zome” com bambu e um “diafragma” com palha, que compõem o cenário do espetáculo. Ao final das apresentações fica à critério da comunidade se deseja dar algum uso ao zome.
Com apoio das parceiras dos trabalhos sociais realizados por Duda Freyre no território, Adriana Bezerra Silva, Graça Nascimento e Conceição Ferreira da Silva, o “zome” de Apipucos foi construído pelas mãos da artista com duas mulheres de outras localidades, onde Duda Freyre tem o desejo de levar também o projeto em momentos oportunos. Foram convidadas para participar da construção da estrutura de bambu que compõe o cenário, sendo elas Alda Arantes, do Coletivo de Mulheres de Jaboatão, e Thamiris Santos, coordenadora estadual do MTST de Pernambuco que mora na zona sul da cidade. Há uma troca de saberes entre mulheres diversas que vivenciam realidades distintas, mas que se reconhecem no olho a olho de lutas semelhantes.
“Eu fiquei muito feliz com o convite que Duda me fez para um treinamento de como trabalhar com o bambu. A gente esteve na construção do zome que é o cenário do espetáculo de dança. Eu que sempre fui amante da dança estou muito emocionada em estar fazendo parte deste projeto que está me ajudando financeiramente também. É uma realização pessoal”, expressa Alda Arantes. “Trabalhar com o zome está me mostrando uma experiência única de desenvolvimento e de aprendizado para passar para outras pessoas. Manusear o bambu me mostrou uma outra realidade de construção, de equilíbrio, de paciência, e me trouxe a esperança de levar uma técnica para dentro da comunidade. Conhecer Graça, conhecer Alda, Adriana, conhecer outras mulheres que são de luta, mulheres que têm um potencial de aprendizagem dentro do seu território, está me fazendo muito feliz!”, demonstra Tamires Santos.
“A união da consciência corporal, da compreensão da dança como algo pertencente ao nosso cotidiano, da necessidade de construção com afeto, harmonia e prazer, da feitura de um espaço que terá uma memória estética, que terá vivências de corpo, de dança, para a construção dos corpos necessários, seja a casa ou um banheiro seco, ou mesmo uma cisterna. Para cada corpo, uma estrutura coreográfica”, nos revela a artista Duda Freyre sobre a criação.
Cenário, figurino e dramaturgia – Geórgia Victor, designer que desenvolve objetos para reabilitação motora e fins educativos, compartilhou com Daniel Malaguti o desafio da composição de figurino e cenário, que se relacionam intrinsecamente no espetáculo. Thiago Oliveira, artista e artesão de palha, pela terceira vez monta a estrutura de um diafragma de cerca de três metros em palha. Um cenário que se conecta com o figurino, o vocabulário coreográfico explorando movimentos em relação com o próprio cenário, que também serviu de referência para construção da trilha sonora, que foi criada por Eric Caldas, através de suas “compostagens sonoras”.
Para composição das estruturas de dança, Duda Freyre conta na dramaturgia com Isabel Tica Lemos, artista que abriu os caminhos do Contato Improvisação no Brasil. O Contato Improvisação é uma das referências do campo da dança e umas das referências da pesquisa, em que a dança acontece fruto da escuta interna de si e do outro. O espetáculo é todo improvisado, com estruturas construídas por Tica e Duda. Tica Lemos esteve no Recife em março, quando trabalhou com Renata Camargo na orientação dramatúrgica para preparação corporal da artista, aprofundando as atmosferas criadas e colaborando na criação de repertório da artista a partir da improvisação. Ana Bevilaqua, segue na preparação corporal on-line com suas aulas regulares de Movimento Fundamental e a artista conta ainda com treinos assistidos com o personal trainer Lucas Temporal e Victor Monteiro em sessões de fisioterapia.
SERVIÇO:
“DOA, VOA!”
Datas de estreia no Recife: 18, 20 e 21 de abril (quinta, sábado e domingo)
Horário: 19h30
Local: Sede do Grupo de Idosos Eternos Aprendizes, Rua Caetés, 592, Apipucos, Recife-PE.
Ingressos: gratuito, link na bio do Instagram @doavoa8. Retirada 1h antes do espetáculo iniciar – capacidade 50 pessoas. Em caso de não comparecimento, os ingressos serão redistribuídos no horário do espetáculo.
Faixa etária: livre
Instagram: @doavoa8
FICHA TÉCNICA:
Concepção: Duda Freyre
Dramaturgia: Tica Lemos
Cenário: Daniel Malaguti e Geórgia Victor (Laboratório de Investigação em Livre Desenho da PUC-Rio)
Confecção do diafragma: Thiago Oliveira e Duda Freyre
Confecção do zome: Alda Lisiane de Arantes, Thamiris Santos e Duda Freyre, com a ajuda de Adriana Bezerra Silva, Graça Nascimento e Conceição Ferreira da Silva
Coleta e beneficiamento do bambu: Edegar Miranda
Preparação corporal (dança): Renata Camargo e Ana Bevilaqua
Preparação corporal (personal trainer): Lucas Temporal
Iluminação: Natalie Revorêdo e Veronika Mayerboek
Fisioterapeuta: Victor Monteiro
Figurino: Geórgia Victor e Joana Pena
Compostagem sonora: Eric Caldas
Produção Executiva: Marcela Paes e Adriana Bezerra Silva
Acessibilidade comunicacional: Jessica Santos e Michell Platini
Catering: Graça Nascimento
Assessoria de Imprensa: Alcateia Comunicação e Cultura (Dea Almeida)
Mídias Sociais: Mirella Alves
Design gráfico: Gabriela Araújo e Eduardo Souza
Apoio: Grupo de Idosos Eternos Aprendizes, Mulheres LP e Conselho de Moradores de Apipucos
Agradecimento Especial: Paloma Granjeiro
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